quinta-feira, 22 de setembro de 2011

INVEJA E GRATIDÃO


Há uma canção do Chico Buarque e Milton Nascimento que fala sobre aquilo “que não tem medida, nem nunca terá”, nossas onipotentes e desmedidas paixões – amor, ciúme, controle, posse, ambição, inveja, raiva -, com seu caráter indomável, ilimitado e insaciável: “que não tem governo, nem nunca terá”.
É um mundo de desejos que ameaçam ultrapassar-nos, transbordando. Diante da autonomia dos “quereres” inconscientes, vindos de outro lugar e que nos marginalizam em relação àquele nosso “eu” mais bem comportado, o poeta se pergunta: “O que será que dá?”
Assim, mostra seu espanto diante do desejo que quer tudo abarcar: plenitude da satisfação, onipresença e posse exclusiva do objeto de amor.
Demanda grandiosa de amor absoluto, urgente, irrealizável, destinada à frustração: é isso que Klein considera o caráter “infantil”insaciável – de todo desejar humano em sua fonte mais inconsciente e arcaica, ponto de nascimento da angustia, das ansiedades mais primitivas e difíceis de atravessar.

Então, a INVEJA PRIMÁRIA é uma outra maneira de falar a respeito da força bruta do desejo em suas origens.
Na inveja há um desejo de ser a pessoa amada, assim, o invejoso quer confundir-se com o amado, fundir-se com ela, sendo-a por dentro - fantasia de incorporação e posse.
A pulsão de morte está na tendência a apropriar-se das qualidades do outro, a apagar a sua importância. Tirar o valor das outras pessoas, desprezá-las, revela o medo de sofrer e, como se sabe, “quem desdenha, quer comprar”.
O alvo para o qual se dirige a inveja é o bom, o belo, o admirável.
A inveja quer a posse imaginária da criatividade, da aptidão que a outra pessoa tem para gerar.
A inveja dá expressão clara à voracidade, à avidez do desejo.
O bebê se dirige ao seio como vampiro – ele quer sugar tudo, e essa voracidade transforma-se em desejo de estrangular e estreitar, de descobrir tudo o que há de quente e precioso no corpo materno, de retirar-lhe todos os seus preciosos conteúdos e apropriar-se deles.
É a própria ambição desmesurada desse amor que o torna sádico.
Lacan chama Klein de “açougueira genial – a teoria kleiniana aproxima-se à arte do grotesco nesse desmesurado e despudorado avanço para as regiões mais baixas e obscuras da mente.
- “como ela sabe que tem isso no bebê?” –
Com base nas sessões de análise com seus primeiros pacientes infantis e também com seus pacientes adultos, ela infere que a presença de uma força sádica no amor das origens, com toda a sua dose de violência pulsional.


INVEJA
- Klein diz que toda inveja tem a ver com o objeto primário, o objeto que tem o poder de suprir tudo. O primeiro objeto invejado é o seio materno.
- Palavra ligada a Pulsão de morte. É o grande representante da pulsão de morte,  gerando com isso ansiedade e conseqüentemente, defesa.
- Destruição – toda inveja é destruidora
- Ninguém tem inveja de coisas ruins.
- Na inveja, o que é destruído não é apenas o mau, também é direcionada ao bom, portanto, ataca o que é bom.
- mãe ou analista recebe fortes ataques para destruir o que é bom: possibilidade de produzir leite, capacidade de holding, capacidade de interpretar. Deprecia o que é bom.
- é a mais radical das manifestações dos impulsos destrutivos, pois leva a atacar e destruir o objeto, aquele cuja introjeção é a base da saúde mental.
- este afeto inconsciente impede a introjeção de boas experiências e, portanto, dificulta a integração psíquica. 
(ataca o outro e teme o ataque deste) – gerando – sentimento persecutório

Quanto maior a inveja, maior a ansiedade persecutória, maior necessidade de defesa.

O que pode impedir o BOM de ser introjetado, tendo um agravante para o psiquismo da criança.


INVEJA NO SETTING – RELAÇÃO DUAL

Paciente – analista

- a inveja foi um campo aberto por Klein para dar conta de alguns aspectos importantes que ocorrem no setting
- quando um paciente não aceita uma interpretação
- ataques à escuta do analista
Pode gerar:
- impasses no processo (não anda)
-RTN – o invés de melhorar, piora

INVEJA, CIÚME, VORACIDADE

INVEJA: é o sentimento raivoso de que outra pessoa possui e desfrutaalg desejável – sendo o impulso invejoso o de tirar este algo ou de estragá-lo. Pressupõe a relação do individuo com uma pessoa e remonta à mais arcaica e exclusiva relação com a mãe.
CIÚME: é baseado na inveja, mas envolve uma relação com, pelo menos, duas pessoas; diz respeito principalmente ao amor que o individuo sente como lhe sendo devido e que lhe foi tirado, ou está em perigo de sê-lo, por seu rival.
VORACIDADE: é uma ânsia impetuosa e insaciável, que excede aquilo que o sujeito necessita e o que o objeto é capaz e está disposto a dar. A nível inconsciente, a voracidade visa escavar completamente, sugar até deixar seco e devorar o seio; ou seja, seu objetivo é introjeção destrutiva, ao passo que a inveja, visa não apenas despojar para depositar maldade. Assim, uma diferença essencial entre voracidade e inveja, embora não haja linha divisória entre elas, visto estarem estreitamente associadas, seria, que a voracidade está ligada principalmente à introjeção e a inveja `projeção.

GRATIDÃO

- Um contraponto ao sentimento de inveja é um sentimento de gratidão.
- GRATIDÃO – a criança usufrui o que esse objeto tem de bom.
- ligada à pulsão de vida, para tanto, é preciso que o indivíduo possa suportar ansiedade causada pela inveja. Se não suportar, ativa mecanismos de defesa. Se conseguir suportar graus de inveja, não será necessário ativar fortes defesas.
- é um dos principais derivados da capacidade de amar.
- é essencial à construção da relação com o objeto bom e é também o fundamento da apreciação do que há de bom nos outros e em si mesmo.
- tem suas raízes nas emoções e atitudes que surgem no estágio mais inicial da infância, quando para o bebê a mãe é o único e exclusivo objeto.
- a capacidade de amar é inata, no entanto, para permanecer livre de perturbações dependerá de circunstancias externas.
- o bebê só pode sentir satisfação completa se a capacidade de amar é suficientemente desenvolvida; e é a satisfação que forma a base da gratidão.
- se há experiência freqüente de se alimentado sem que a satisfação seja perturbada, a introjeção do seio bom se dá com relativa segurança.
- uma gratificação plena ao seio significa que o bebê sente ter recebido do objeto amado uma dádiva especial que ele deseja guardar -  esta é a base da gratidão –
- a gratidão está intimamente ligada à confiança em figuras boas.









AULA: 27/03/12

















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