sábado, 21 de abril de 2012

Teoria do Desenvolvimento Emocional Primitivo


TEORIA DO DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL PRIMITIVO
DONALD WOODS WINNICOTT

Winnicott foi um dos principais autores em psicanálise a dar a verdadeira ênfase a este fato obvio de que somos o produto de uma integração constante e permanente com o meio, resultado do encontro dos processos de maturação com um ambiente facilitador que possibilita o desenvolvimento destas potencialidades.
Assim, para ele o ser humano traz em si uma tendÊncia inata a se desenvolver e a se unificar. Essa tendência atualiza-se no funcionamento dos processos de maturação (formação e evolução do eu, isso e SE, e dos mecanismos de defesa elaborados pelo eu num individuo sadio. Portanto, a saúde psíquica repousaria no livre desenrolar desses processos de maturação.
É o ambiente – inicialmente representado pela mãe ou por um de seus substitutos que permite ou entrava o livre desenrolar desses processos.
Os pais são facilitadores:
Eles não podem ser os motores acionadores do desenvolvimento; eles podem tão somente facilitá-lo oferecendo firmeza, amor, frustração suficiente e confronto com a realidade e agressão.

A FASE DE DEPENDÊNCIA ABSOLUTA (0-6m)
- o bebê acha-se num estado de total dependência do meio, representado, nessa época, pela mãe ou por um substituto;
- o bebê depende inteiramente do mundo que lhe é oferecido pela mãe, porém, o mais importante e que constitui a base da teoria winnicottiana é o desconhecimento de seu estado de dependência por parte do bebê;
- Na mente do bebê ele e o meio são uma coisa só;
- idealmente, seria por uma perfeita adaptação às necessidades do bebê que a mãe permitiria o livre desenrolar dos processos de maturação.

AS TRÊS FUNÇÕES MATERNAS:
Nos primórdios da vida, as necessidades do bebê por certo são de ordem corporal, mas há também necessidades ligadas ao desenvolvimento psíquico do eu. A adaptação da mãe a essas necessidades do bebê concretiza-se através do emprego de três funções maternas que são exercidas simultaneamente:
1.    A apresentação do objeto
Nessa função o exemplo mais impressionante é a apresentação do seio ou da mamadeira. Ao oferecer o seio no momento mais ou menos certo, ela dá ao bebê a ilusão de que ele mesmo criou o objeto do qual sente confusamente a necessidade. Ao lhe dar ilusão dessa criação, a mãe permite que o bebê tenha uma experiência de onipotência. O bebê vai assumindo relações estimulantes com as coisas e as pessoas.
2.    Holding (sustentar, conter, dar suporte)
Com esta função Winnicott enfatiza o modo de segurar a criança, a principio fisicamente, mas também psiquicamente. A mãe protege o bebê dos perigos físicos, leva em conta sua sensibilidade cutânea, auditiva e visual, sua sensibilidade às quedas e sua ignorância da realidade externa. Através dos cuidados maternos cotidianos, ela instaura uma rotina, sequencias repetitivas.
A sustentação psíquica consiste em dar esteio ao eu do bebê em seu desenvolvimento, isto é, em colocá-lo em contato com uma realidade externa simplificada, repetitiva, que permita ao eu nascente encontrar pontos de referência simples e estáveis, necessários para que ele leve a cabo seu trabalho de integração no tempo e no espaço.
3.    Handling (manejo)
Manipulação do bebê enquanto ele é cuidado. A mãe troca a roupa do bebê, dá-lhe banho, embala-o, etc. O emprego desta função materna é necessário par o bem-estar físico do bebê, que aos poucos se experimenta como vivendo dentro de um corpo e, com isso, realiza uma união entre sua vida psíquica e seu corpo – união que Winnicott chama de personalização.

MÃE SUFICIENTEMENTE BOA
- a mãe que durante os primeiros meses de vida do filho, identifica-se estreitamente com ele, e que, na teoria, adapta-se perfeitamente a suas necessidades;
- ela é boa o bastante para que o bebê possa conviver com ela sem prejuízos para sua saúde psíquica;
- representa o ambiente suficientemente bom, possibilitando à criança experimentar um sentimento de continuidade da vida, que é o sinal da emergência de um verdadeiro self.
MÃE INSUFICIENTEMENTE BOA
- pode corresponder a uma mãe real ou a uma situação. Quando se trata de uma mãe real, Winnicott fala numa mãe que, em termos globais, não tem a capacidade de se identificar com as necessidades do filho. Em vez de responder aos gestos espontâneos e às necessidades do bebê, ela os substitui pelos seus;
- o pior é a que, “logo de inicio, não consegue impedir-se de atormentar, ou seja, de ser imprevisível”, de passar, por exemplo, de uma adaptação perfeita para uma falha, ou de passar subitamente da intromissão para a negligência, de tal modo que o bebê não pode confiar nela, nem prever nenhuma de suas condutas.
- pode corresponder a uma situação em que os cuidados são prodigalizados à criança por diversas pessoas. A criança depara então com uma mãe dividida em pedaços e tem a experiência da complexidade dos cuidados que lhe são prestados e não da simplicidade que seria desejável.

A FASE DE DEPENDÊNCIA RELATIVA (6m-2a)
- a criança se conscientiza de sua sujeição e, por conseguinte, tolera melhor as falhas de adaptação da mãe, assim se tornando capaz de tirar proveito delas para se desenvolver;
- está em condições de reconhecer os objetos e as pessoas como fazendo parte da realidade externa;
- percebe a mãe como separada dela e realiza uma união entre sua vida psíquica e seu corpo;
- consegue antecipar os acontecimentos (ruídos da cozinha, etc)
Do lado da mãe, também se produz evolução psíquica:
- ela se desliga aos poucos de um estado de identificação com o filho que fora intenso na primeira fase. A mãe retoma sua vida pessoal e/ou profissional e introduz “falhas de adaptação” moderadas frente à criança.
- a mãe faz isso com a ajuda de um PAI SUFICIENTEMENTE BOM, que por sua vez, também exerce três funções básicas neste momento:
            - separação da díade mãe-bebê
            - apresentação do mundo à criança
            - reconquista da mãe (nova sedução)
Através da dificuldade em que a criança esbarra para perceber a mãe de maneira unificada durante essa segunda fase. Com efeito, ao se aproximar dessa fase, ela pensa, inicialmente, estar se relacionando com duas mães:
- 1ª) dos momentos de calma e tranquilidade – a mãe que cuidou do filho através dos cuidados que lhe prestou, que falou com ele, brincou com ele, e de quem reconheceu o rosto, a voz, as atitudes. Essa mãe que zelou pelo seu bem-estar é ternamente amada pela criança.
            - 2ª) dos momentos de excitação – aquela com quem a criança s encontra na hora das refeições, em fases de excitação em que a agressividade está implicada. Em virtude do componente agressivo presente na pulsão oral, o bebê passa a imaginar que a satisfação de sua fome acarreta uma deterioração do corpo da mãe, que cava nele um buraco, um vazio.

Durante a 1ª fase a criança não se preocupava com essa destruição, mas agora, inquieta-se com ela, pois reconhece que depende da mãe para seu bem-estar. Para que a criança reconheça que a mãe dos momentos de excitação não foi destruída, é-lhe necessário reconhecer que a mãe dos momentos tranquilos é a mesma pessoa. Para efetuar a contento esse processo de integração das duas figuras maternas, ela precisa de uma mãe suficientemente boa, ou seja, de uma mãe que sobreviva.
É por causa da angustia depressiva e da culpa que a criança pequena se empenha em atividades de reparação e restauração da mãe, quando sentida como danificada ou destruída. Essa reparação é empregada no nível fantasistico e, depois, na realidade, sob a forma de gestos de ternura e de presentes. Para tanto precisa de uma mãe que consiga sobreviver – de uma mãe suficientemente boa.

ALGUMAS REFLEXÕES
“se nenhum de nós fosse capaz de ter a ilusão de que tudo esteja bem, de brincar com os sentimentos e as ações como se o mundo e nós pudéssemos existir para sempre, como se nós e aqueles a quem amamos jamais viessem a se transformar em pó, seria dificil prosseguir.”
“não existe aquilo a que se chama um bebê”.
“um bebê não pode existir por si só, mas é parte essencial de uma relação.”
“a análise só pela análise não sentido. Faço análise porque é do que o paciente precisa. Se o paciente não necessita de análise então faço alguma coisa orientada psicanaliticamente.”