domingo, 28 de agosto de 2011

vídeo: Melanie Klein em Cordel

Este vídeo mostra um resumo da biografia de Melanie Klein contada em forma de cordel... vale a pena assistir!

vídeo: Canção Edipiana do Chico Buarque


Aula: A Teoria das Posições de Melanie Klein

A TEORIA DAS POSIÇÕES

Teoria do desenvolvimento mental:
É uma teoria da mente e seus modos predominantes de funcionamento; uma teoria de como as pessoas usam suas mentes para perceber, negar, alterar ou refletir sobre a realidade.

Cada vivencia emocional adquire um significado de acordo com as características destes objetos internos. Klein destaca o papel que este mundo interno desempenha sobre todas as nossas reações e formas de lidar com as situações internas e externas determinando sobremaneira a forma de viver cada experiência.

A teoria das posições é em relação ao objeto
As fases de Freud são em relação à libido

São processos e não entidades estáticas, por isso, não é possível dizer de uma entrada na posição tal, talvez seja possível dizer que se alcance uma predominância de um modo depressivo de operar, incluindo sempre uma possibilidade de que para alguns aspectos da vida se opere de um modo SZN.

As Posições:
·    São dinâmicas psíquicas que, alternando-se ao longo da vida, geram maneiras de ser e de experienciar o mundo. É desta alternância das posições que resultaria a estruturação do sujeito.
·         São duas formas básicas de organização das ansiedades, defesas e modos de estabelecer relações com os objetos.
·         Rompe com a idéia de tempo cronológico e desenvolvimento linear, pois busca privilegiar duas grandes possibilidades de experienciar a si mesmo e ao mundo;
·         Trata-se de uma espécie de óptica que norteia a percepção de si mesmo e das experiências;
·         Trata-se de um certo modo de organizar-se frente às vivências que faz com que estas adquiram sentidos diferentes dependendo da óptica usada.

O modo de ver o mundo é determinado por um conjunto de ansiedade, defesas, fantasias e formas de se relacionar que propiciam um modo de perceber e compreender a realidade.

Conceber o desenvolvimento como operando com duas posições básicas, é pesá-lo como duas atitudes mentais diferentes a partir das quais as experiências podem ser vividas. As posições são, assim, conceituações sobre as organizações psíquicas que geram formas de ser e experienciar o mundo.

Para Klein, existe uma flutuação entre as duas posições, dependendo sempre da capacidade do ego de suportar as angústias decorrentes dos aspectos ambivalentes da experiência.
- estas formas de organização psíquica não são nunca superadas ou deixadas para trás; o que é possível, com maior ou menor sucesso, é manter uma relação dialética entre elas, uma relação na qual cada estado cria, preserva ou nega o outro.

POSIÇÃO ESQUIZOPARANÓIDE

·         O primeiro instrumento do bebê para estruturar suas experiências;
·         Divisão do ego:
o   Bom:  gratifica- idealização/introjeção
o   Mau: frustra – projeta
·         Não percebe o objeto como uma unidade – desenvolve o amor e o ódio isoladamente;
·         Predomina a onipotência;
·         Díade – narcisismo
·         Não há reflexão – pensamento
·         Não reconheço o que é ruim como sendo meu – projeção;
·         Cisão do objeto interno;
·         A ansiedade é paranóide/persecutória, pois o ego é frágil para lidar com o desconforto, com o ódio e com a frustração;
·         O ego é fragmentado;
·         Utilização de mecanismos de defesa primitivo: spliting (cisão), projeção, introjeção, negação, identificação projetiva;
o   Para se organizar e se sentir segura diante da ameaça de caos advinda de sua fragilidade para significar essas experiências, o ego recorre aos mecanismos primitivos de defesa.
o   O mecanismo de defesa é uma construção teórica para dar conta de uma fantasia operada pelo ego para se proteger.
o   Na PE o ego tenta defender-se do que Klein chama de ansiedade de aniquilamento – uma experiência catastrófica que parece ser sentida como ameaça à sua sobrevivência.

A fantasia de não ser capaz de dar conta e de conviver com os aspectos contraditórios de si mesmo e do objeto, assim como a angustia, vivida como insuportável, de integrar as  experiências sentidas como más e como boas, faz com que, em fantasia, haja uma tendência a expulsar as experiências más, localizando-as fora de si, e ao mesmo tempo tentar incorporar e identificar-se com as experiências sentidas como boas.
Assim, a ansiedade predominante é a persecutória (paranóide) e o estado predominante do ego é fragmentado e cindido (esquizo).

Klein destaca que há uma tendência à integração do ego que se alterna com uma desintegração defensiva, um movimento de vida que leva à integração e um de morte que leva à desintegração. (PV x PM)

Cisão:
·         É falar de uma vivencia de que o que sinto como ruim não me pertence, não é da minha responsabilidade e, o que é bom, é meu.
·         O sujeito vivendo de modo SZN, estrutura suas percepções do mundo de maneira a dividir o mundo em “bom” – que ele tenta ser e possuir (por introjeção), e “mau” – que ele expulsa e localiza fora de si (por projeção), no objeto.
o   Assim:
§  “BOM” = “mim”
§  “MAU” = “não-eu”
·         A cisão permite ao sujeito amar e odiar com segurança, protegido das angústias decorrentes da ambivalência, pois um aspecto da experiÊncia está sempre fora do alcance;
·         A cisão torna impossível a percepção de que podem provir do mesmo objeto tanto a gratificação quanto a frustração.
o   A mãe que frustra passa a ser vivida como outra, diferente da que gratifica, oq eu permite odiá-la com mais segurança e propriedade.

POSIÇÃO DEPRESSIVA

·         Implica a possibilidade de viver a subjetividade e a historicidade, percebendo a ambivalência na relação com o objeto e podendo dar conta das emoções dela decorrentes.
·         Em oposição à PE, na qual a experiência é parcial, tanto em relação a si mesmo como ao objeto, na PD é possível perceber-se como um objeto total – amando e odiando, possuindo qualidades e defeitos, valores antagônicos, etc – além de perceber-se em relações com objetos também totais e que, portanto, satisfazem e frustram, sem que isto implique ativar um splitting defensivo. Tal mudança permite acompanhar a continuidade da experiência de si mesmo e do outro.
·         Amplia o conhecimento do mundo e de si mesmo, mas também expõe o sujeito a novas ansiedades.
o   Como aceitar em mim mesmo aspectos indesejáveis?
o   Como conviver com a percepção de que posso pôr em risco a relação com as pessoas ou valores que eu amo?
o   Como preservar o objeto amado dos riscos de mim mesmo?
o   Como aceitar que a pessoas amada tem momentos em que posso odiá-la?
o   Como conceber este novo modelo de relação?
o   Como aceitar que ela tenha uma existência separada da minha e que possa viver não exclusivamente para mim?
o   Como conviver com a percepção  da minha impotência para controlá-la?
·         Um elemento importante na PD é a possibilidade de elaborar a culpa; a confiança na capacidade de reparar joga um relevante papel para permitir que a culpa seja vivida como responsabilidade.
·         Na elaboração da PD:
o   Reconhecimento da dependência;
o   Perda da onipotência;
o   Culpa;
o   Reconhecimento da própria hostilidade;
o   Anseio pela repação.
·         Integrar  é ter ou poder vivier a culpa e esta se liga à consciência do impulso destrutivo dirigido ao objeto amado, à percepção de que é o próprio eu quem pode pôr em risco o amor. Portanto, integração implica responsabilidade.
o   Culpa gera perseguição
o   Responsabilidade gera trabalho e ocupação.
§  Talvez seja possível superar a culpa que se transforma em perseguição, alcançar a culpa vivida como responsabilidade.
§  Culpa e perseguição teriam como oriegem um SE severo e a responsabilidade, mais realista, seria uma função egóica.
·         Reparação: é sempre um trabalho penoso, pois implica reconhecer que possa ter colocado em risco uma relação e responsabiulizar-se por isto; reconhecer-se amando e querendo manter a relação; inseguro quanto aos estragos realizados; esperançoso, porém, não onipotente, de ser capaz de remediar e, assim, estar atento a si e ao outro para acompanhar os efeitos dessa reparação.
·         Com a passagem pela PD é possível a relação dual, é possível viver o Édipo e se iniciar na vida simbólica, no jogo e no brincar.
·         Podemos resumir a PD:
o   Por volta dos 6 meses;
o   Reconhece a realidade interna e externa
o   Mãe como objeto total – completa e real
o   Ambivalência – culpa – reparação
o   Possibilita viver a subjetividade
o   Tríade – Édipo
o   Reconheço a dependência
o   Diminuição da onipotência
o   Reconhecimento da própria hositilidade
o   Dor ao perceber os sentimentos contraditórios em relação ao mesmo objeto
o   Ansiedade é depressiva
o   Suporta a não exclusividade
o   Elabora a culpa – responsabilidade
o   Percebe que o objeto não está sob seu controle







Aula: A sexualidade infantil e o complexo de Édipo

a sexualidade INFANTIL  e  COMPLEXO DE ÉDIPO
 CAMINHOS PERCORRIDOS…
¨Freud reconheceu a sexualidade da criança à partir da sexualidade recalcada dos neuróticos.

¨1898 – “A sexualidade na etiologia das neuroses” – ainda considera improvável a aplicabilidade da terapia analítica às crianças;

¨1905 – “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”;

¨1907 – “Esclarecimento sexual das crianças” – já tinha posse do material de Hans;

¨1908 – “Sobre as teorias sexuais infantis

¨1909 – “O pequeno Hans” – confirmação de suas teorias

¨1920 – “Além do Princípio do Prazer” – o brincar como movimento simbólico
SEXUALIDADE INFANTIL

¨Freud descreveu as características da sexualidade infantil em “Três Ensaios sobre a teoria da sexualidade”. A criança pequena é uma criatura instintiva, cheia de uma sexualidade total ainda indiferenciada.

¨Os “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (1905) é sem dúvida o texto fundamental a partir do qual a problemática do auto-erotismo é inserida, marcando a mudança teórica quanto à questão da etiologia das neuroses. Com efeito, a sequência sedução-trauma-defesa, que imperava no período anterior, é substituída pela sentença “a neurose é o negativo da perversão”, sendo que a “perversão polimorfa infantil” é norma na infância. O auto-erotismo é entendido então, como uma das características dessa sexualidade infantil perversa polimorfa que os neuróticos reprimem e os perversos atuam.

Todo prazer corporal que não era devido à satisfação direta das pulsões do ego (tais como a satisfação da fome, sede, e necessidades excretórias) ele considerou como sendo sexuais ou eróticas, sendo que zonas corporais suscetíveis à estimulação erótica, foram denominadas zonas erógenas.

As zonas erógenas são fontes de diversas pulsões parciais (auto-erotismo) e determinam com maior ou menor especificidade um certo tipo de meta sexual.

Existe apenas uma libido que desloca de uma zona para outra

Decorre daí, segundo Freud, o fato de que a pulsão sexual está fragmentada em pulsões parciais, de satisfação localizada e que só progressivamente tenderão a unificar-se em uma mesma organização libidinal, sob o primado da genitalidade, portanto, há uma integração das pulsões.
 
As fases do desenvolvimento psicossexual

Considerações Preliminares

1- Fase Oral Primeira fase da evolução libidinal. O prazer sexual está predominantemente ligado à excitação da cavidade bucal e dos lábios que acompanha a alimentação. Esta fase estaria situada entre o nascimento e os 2 anos.

2- Fase Anal – A Segunda fase da evolução libidinal pode ser situada entre os 2 e 4 anos; é caracterizada por uma organização da libido sob o primado da zona erógena anal; a relação de objeto está impregnada de significações ligadas à função de defecção (expulsão-retenção) e ao valor simbólico das fezes.

¨A essência do que foi denominadofase anal” poderia resumir-se a esse antagonismo entre submissão passiva e rebeldia ativa, alternado-se em perpétua ambivalência.

¨Erotismo uretralprazer da micção, percepção da diferença entre os sexos. Enureseequivalente inconsciente da masturbação.

3- Fase ou Organização Genital:

  Compreende dois momentos, separados pela latência: a fase fálica (ou organização genital infantil) e a organização genital propiamente dita que se institui na puberdade.

  - Fase FálicaFase da organização infantil da libido que se caracteriza por uma unificação das pulsões parciais sob o primado dos órgãos genitais; mas, o que não será o caso na organização genital pubertária, a criança, de sexo masculino ou feminino, conhece nesta fase um único órgão sexual, a saber, o masculino. Esta fase corresponde ao momento culminante e ao declínio do complexo de Édipo; o complexo de castração é aqui predominante.

  - Fase Genital - Fase da organização infantil da libido que se caracteriza pela organização das pulsões parciais sob o primado das zonas genitais.

¨Período de Latência – período que vai do declínio da sexualidade infantil até o início da puberdade, e que marca uma pausa na evolução da sexualidade. Observa-se nele uma diminuição das atividades sexuais, a dessexualização das relações de objeto e dos sentimentos, o aparecimento de sentimentos como o pudor ou a repugnância e de aspirações morais. O gradual abandono de investimento nos objetos dá lugar às identificações, a autoridade dos pais é introjetada e constitui o núcleo do superego.

¨Tem origem no declínio do complexo de Édipo; corresponde a uma intensificação do recalque – que tem como efeito uma amnésia que cobre os primeiros anos -, a uma transformação dos investimentos de objetos em identificações com os pais e a um desenvolvimento das sublimações.

¨Chama-se “período” porque durante o período considerado, embora possamos observar manifestações sexuais, não há, a rigor, uma nova organização da sexualidade.
  O COMPLEXO DE ÉDIPO

É o clímax da sexualidade infantil, o desenvolvimento erógeno que parte do erotismo oral, através do erotismo anal, para a genitalidade e, bem assim, o desenvolvimento de relações objetais que culminam nos desejos edipianos. A superação destes desejos, a substituir-se pela sexualidade adulta, representa o pré-requisito da normalidade.

Complexo de Édipo – é o momento organizador, estruturador da realidade psíquica, do mundo da criança, do aparelho psíquico.

O complexo de Édipo desempenha papel fundamental na estruturação da personalidade e na orientação do desejo humano. Ele é o principal eixo de referência da psicopatologia; para cada tipo patológico eles procuram determinar as formas particulares da sua posição e da sua solução.

Freud (1924) salienta que o complexo de Édipo é o fenômeno central do período sexual da primeira infância.

O apogeu do complexo é vivido entre os três e cinco anos, durante a fase fálica; o seu declínio marca a entrada no período de latência.

Já na primeira formulação, Freud afirma a universalidade do Édipo: “A todo ser humano é imposta a tarefa de dominar o complexo de Édipo...”.

Vir a ser homem ou mulher está intrinsecamente relacionado aos destinos do complexo de Édipo de cada um. O modo de percorrer e solucionar as questões essenciais é bem diferente para cada ser humano, e esta caminhada determina o pathos, o sofrimento e a paixão de cada um de nós.

A sua eficácia vem do fato de fazer intervir uma instância interditória (proibição do incesto) que barra o acesso à satisfação naturalmente procurada e que liga inseparavelmente o desejo à lei.

¨Está de mãos dadas com o complexo de Édipo;

¨É simbólica e representa a interdição do pai;

¨A percepção que muda:

¤ não tem o pênis porque vai crescer;

¤Não tem porque caiu;

  O que provoca a mudança é o medo da castração. Assim, quando há o momento da castração da mãe, é momento que a queda do CE se estabelece.

  A castração da mãe é o mais decisivo no desenvolvimento ou curso do CE.

O COMPLEXO DE castração

¨ A mãe era a pessoa mais fálica; diante da castração da mãe, o sujeito terá uma atitude: negá-la. (é a partir da castração da mãe que o sujeito também se vê castrado).


¨A negação é feita de três formas que, por sua vez, determinarão a estrutura do sujeito.

¨

¨1ª forma: RECALCA

  há para o sujeito “o pode” e o “não pode”

  Todo sujeito que recalcou a castração é um neurótico e está submetido a Lei Edípica que organiza o mundo. Assim, o recalque da castração é a melhor saída.

-“não posso tudo... Não é tudo que é permitido... Não tem só sua mãe no mundo...”

-“aceito as normas”, “cumpro a lei edípica (não pode incesto)”


¨2ª forma – FORACLUSÃO

(jogar fora, arremessa, descartar, eliminar material rejeitado)

  O processo da castração é inexistente, uma vez que, a castração da mãe não existe por causa da falta do pai. Assim, não conclui o Édipo com o recalque da castração.

  - está na simbiose, não houve interdição, o mundo não entra, haja vista que, esta entrada é realizada mediante o pai e a lei.

  - portanto, não há organização.

¨3ª forma – DESMENTIR

  Entra em contato com a castração, mas nega desmentindo.

“eu sei que não posso” – “mentira. Posso sim.”

(ambiguidade entre verdade e mentira)

Sabe o que é a lei para infringi-la.

Anulou o medo da castração.

Elege um elemento para tamponar a falta – fetiche, objeto usado para desmentir a castração, é a substituição do falo. E assim, tem que desmentir todo o dia.

¨Assim, o CE é o momento lógico e não cronológico da vida do sujeito onde as coisas se organizam, onde tudo se organiza.

¨Momento organizador que faz com que o sujeito se desenvolva.



Você, Você (Canção Edipiana)
Chico Buarque

¨Que roupa você veste, que anéis?
Por quem você se troca?
Que bicho feroz são seus cabelos
Que à noite você solta?
De que é que você brinca?
Que horas você volta?

¨Seu beijo nos meus olhos, seus pés
Que o chão sequer não tocam
A seda a roçar no quarto escuro
E a réstia sob a porta
Onde é que você some?
Que horas você volta?

Quem é essa voz?
Que assombração
Seu corpo carrega?
Terá um capuz?
Será o ladrão?
Que horas você chega?

Me sopre novamente as canções
Com que você me engana
Que blusa você, com o seu cheiro
Deixou na minha cama?
Você, quando não dorme
Quem é que você chama?

¨Pra quem você tem olhos azuis
E com as manhãs remoça
E à noite, pra quem
Você é uma luz
Debaixo da porta?
No sonho de quem
Você vai e vem
Com os cabelos
Que você solta?
Que horas, me diga que horas, me diga
Que horas você volta?


  

¨